21 de janeiro de 2016

Bagatelas: treze pequenos livros e fanzines. AAVV

Mesinha de Cabeceira # 27. XXXMas Special: Nadja, Ninfeta Virgem do Inferno. Nunsky (Mmmnnnrrrg) Depois de um tremendo intervalo entre os dois livros acabados do bravio autor do norte, eis que Nunsky regressa às lides rapidamente com um pequeno opúsculo. Mas todos os instrumentos são bem diversos dos de Erzsébet: a história completa que ocupa todo o número 27 do MdC é, a um só tempo, pesada e leve, séria e cómica, fresca e desesperante. A ninfeta do título vê o seu jovem namorado toxicodependente a perder a vida com um chuto mal-sucedido, e segue-lhe na peugada até ao Inferno, onde faz um pacto com o demónio que a torna numa personagem trágica e romântica. Ser-lhe-á concedido tempo de redenção com o namorado quantas mais almas conquistar para o Príncipe das Trevas. Este relato parece prometer-se como o primeiro episódio de muitas aventuras, e seguramente que haveria estômago para aguentar tamanha crueldade, morte sanguinária, heavy metal à anos 1980, e risadas à custa de beatos de séries de televisão de cartão canelado de décadas ainda mais rebuscadas. Um autêntico exercício de citação de bonecos-feitos, Nadja é, em termos figurativos, uma espécie de clash entre a luxúria e os laivos de fotorrealismo ma non troppo de um de Will Elder ou Angus McKie (e, no que diz respeito às cores, a explosão de diversidade do segundo e a o esbatimento do segundo, sobretudo na fase da Playboy, com H. Kurtzmann) e o pormenor quase doentio nas expressões e distribuição de moral, e até alguns aspectos do conteúdo, de Jack Chick (das “Chick Bibles”). Existem traços de alguma soberba crença na mundividência católica e a associada crença no Demo. Tratar-se-á este Nadja de um tortuoso panfleto de um Católico atormentado por gostar dos discos dos Slayer e Iron Maiden e querer ver realizadas as suas capas? Uma homenagem a todo um historial de comics de séries Z? Interprete-se como se desejar, e para mandar fora um cliché, Nadja é um bafejo de hálito quente e cerveja quente. 
(Mais)
As crónicas da Cemitéria. Rodolfo Mariano (auto-edição) Este livro em A4 reúne alguns trabalhos que já haviam sido publicados online em O gato Mariano, mas parece conter algum material inédito. O autor dá continuidade aos seus temas e variações: guitarras animadas, figuras tétricas ainda mais animadas, paisagens macabras e metaleiros (e quão clássica essa imagem!). Menos do que históricas articuladas, o trabalho de Rodolfo Mariano está mais próximo de pequenos poemas, ambientes, delírios temáticos que nos lançam num território imaginativo tão específico como nebuloso. Os desenhos maioritariamente a esferográfica (mas não só, o autor indica que usa pincel e aparo, assim como rotrings-isograph de várias espessuras; no entanto, o "treino" desse exercício obsessivo, típico de qualquer estudante semi-aborrecido ou buscando outros métodos de concentração em aulas teóricas, está patente em todos os movimentos do pulso), frenéticos, procuram ocupar toda a página de uma forma obsessiva, por vezes atropelando uma leitura mais fluida dos momentos, dos diálogos entre as personagens, e até mesmo num controlo mais elegante da perspectiva, mas por outro lado é precisamente essa ocupação célere que dá o estranho charme ao trabalho de Mariano, que parece emergir de uma neblina feita de fumos perfumados a opiáceos e sustentados por o ininterrupto som de uma drone guitar.

Muji life. Hetamoé (Clube do Inferno) Parece estarmos a mantermo-nos num campo onde o grotesco, o violento e o erótico andam de mãos dadas. Mas no caso do trabalho desta autora portuguesa, há, a um só tempo, uma mais forte componente cerebral e um abandono à liberdade dos materiais com que constrói os seus textos. Na verdade, suspeitamos que a leitura desta publicação não possa ser feita de modo totalmente autónomo do seu pequeno encarte, um ensaio intitulado Yangire/Yandere. Este é um excelente artigo académico que utiliza instrumentos dos estudos culturais, feminismo e outras disciplinas para falar sobre estas duas palavras-chave que, de modo sucinto, se referem a figuras tipificadas de alguma banda desenhada japonesa, de personagens femininas muito jovens e de ar cândido mas que escondem uma personalidade “dupla” de violência extrema. Existem diferenças subtis, que a autora explora, mas o mais importante é a maneira como ela as sublinha para demonstrar que servem ainda uma imagem heteronormativa da representação das mulheres – para já como mais “emocionais” e mais disruptivas na sua violência. Muji Life é como que uma “ilustração” igualmente ensaística dessas considerações, utilizando algumas das ideias e objectos discutidos para criar uma história fragmentada em torno dessas ideias: uma obsessão amorosa que tem como corolário actos da mais intrépida das violências. É muito estimulante ver que os autores afectos ao Clube do Inferno (tal como André Pereira, ver adiante) têm contribuído de uma maneira muito particular com obras que não apenas trazem novas e inventivas propostas em termos de temas, estilos e abordagens narrativas nos seus trabalhos, mas igualmente propõem formas novas de pensá-la em termos formais e comunicativos.

Altar Mutante Comix # 3. Este zine de Espanha parece trilhar territórios que misturam o gótico e o horror, o satânico e o mágico, a fantasia e a ficção científica pós-apocalíptica. Com os três títulos acima citados, está em perfeita companhia. Com muitos trabalhos variados, encontrar-se-ão coisas para todos os gostos, balizados por aqueles géneros, desde capítulos de aventuras maiores a contos curtos em torno de temas ou imagens singulares. Mas chegou-nos este objecto às mãos por conter uma banda desenhada curta de André Coelho, uma adaptação à composição entre texto e imagem de uma parcela de um dos livros sobre as bombas nucleares de Richard Rhodes, tendo contado com a colaboração de Manuel J. Neto no trabalho de edição textual. Assim temos 5 páginas da história da descoberta, mineração e baptismo do mineral que é o sangue das bombas: “Hombres de Marte”. No entanto, o que se verifica aqui é uma transformação dessa história numa rede de associações de imagens e temas que o transforma numa espécie de passeio psicogeográfico transhistórico e que mistura a realidade ao plano mítico, um pouco à la The Birth Caul de Alan Moore e Alec Campbell.

Evan Parker Xjazz. André Coelho (Chili Com Carne/Thisco). Para nos mantermos na companhia do mesmo artista, mas alterando um pouco as águas, acompanhemos um zine, impresso a duas em risografia, sendo uma delas um belíssimo cinzento metalizado, que traz reflexos às figuras humanas. EPX é tão-simplesmente uma colecção de alguns desenhos feitos à vista dos músicos agregados numa espécie de jam session, workshop, master class e momento de procurar harmonias e investigações profundas musicais, em torno da figura de Parker, quando da sua visita do festival Xjazz em Pedrogão Pequeno, de que existirão outros registos. Um sucinto mas claríssimo texto de Rui Eduardo Paes cria o necessário contexto para os incautos, mas igualmente para nos fornecer algumas pistas não só em compreender algumas das frases igualmente capturadas por Coelho, mas pequenos gestos subtis que poderão fazer adivinhar as tais harmonias conquistadas: as mãos pusadas sobre os joelhos e os olhos fechados de Parker ao escutar os músicos, um saxofonista a não tocar, o sobrolho carregado de um músico de electrónica, as caretas expectáveis de quem segue num transe de notas, e as misteriosas mãos em posições de mudra, em busca de navegações pelos sons, são apenas alguns dos elementos deste sketchbook.

Free Dub Metal Punk Hardcore Afrotechno Hiphop Noise Electro Jazz Hauntology. Marcos Farrajota (Chili Com Carne) Bem vistas as coisas, esta antologia de vários trabalhos curtos do autor espalhados por várias publicações, sobretudo as tiras “Não ‘tavas lá!?”, mini-reportagens em banda desenhada de concertos musicais, mereceria uma recepção mais alargada. Como o próprio título indica, este volume reúne trabalhos que lidam sobretudo com temas musicais, desde essas pequenas reportagens a peças mais longas dedicadas a um festival de metal, outros encontros, mas também a muitas das presenças culturais que, de uma maneira ou outra, informam a paisagem identitária do Portugal contemporâneo. Daí que se encontrem algumas das bandas desenhadas que – se nos permitem – foram incluídas em SemConsenso, como “Os betos venceram!!!”, “O cristão colorido” e “Arabyan Ana!” – no seu conhecido estilo de borrifamento universal, w as suas figuras rapidamente rabiscadas em esferográficas ou canetas o mais à mão possível, e sobre restos de papel, senão mesmo páginas descartáveis de Bíblias impressas (o autor respiga vinheta de histórias umas para as outras, ou constrói uma prancha final a partir de vinhetas rasgadas noutro local), Farrajota transforma sempre qualquer oportunidade para, ao aparentemente querer dar conta de um evento de modo objectivo, ou partilhar uma opinião de maneira descontraída, acaba por revelar traços dessa tal identidade que faríamos bem em questionar. Daí que o uso do vocábulo filosoficamente prenhe de “hautologia”, de Derrida, não seja um rodriguinho, mas um caso sério. A visão particular sobre o dito mercado independente de edição de livros ou música, o estado da arte e as suas misturas com os negócios camarários, a forma como interesses comerciais rapidamente co-optam, como se costuma dizer, movimentos culturais que poderiam ter sido alternativos, são alguns desses elementos. Mas acima de tudo está uma certa bonomia e complacência da “cultura média burguesa” para com a nossa própria história, o que nos leva poucas ou nenhumas vezes a pormos em causa aquilo que achamos que faz de Portugal “um grande país”, ou dos portugueses “um povo nobre”, e coisas quejandas. Algumas das sendas das histórias enveredam pela autobiografia, mesmo rebuscando o passado, dando continuidade a uma das linhas que o autor mais cultivou, em larga medida, quase isoladamente no nosso país. Há ainda uma divertida participação de Rudolfo, que ilustra um aviso sobre os perigos da droga aos mais jovens. Muito pedagógico. Seguramente que seria um ganho para o PNL.

Mundos em segunda mão. Vol. 2. Aleksandar Zograf (Mmmnnnrrrg) Este volume dá continuidade ao peculiar método de escrita de Zograf, que o aliará a autores como Bill Griffith, David Greenberg ou David Collier: autores que, em vez de criarem imensos blocos de reportagens ou explorações monumentais de um tema (o que podem igualmente fazer), concentram a maior parte do seu trabalho em curtos ensaios ou “artigos” em torno de notícias, eventos, personagens ou aspectos da realidade humana que não parecem possuir qualquer importância para a transformação das sociedades. Esta comparação tem os seus limites, já que Griffith prefere misturar essa pesquisa com o humor surrealista que Zippy lhe permite, e Zograf de quando em vez foca acontecimentos de cariz histórico. Em apenas 2 pranchas, com um número limitado de vinhetas e um bloco imenso de texto corrido, Zograf discorre aqui sobre muitos objectos inusitados (suportes para jogar às cartas sem cansaço, suportes em renda de rolos de papel higiénico, alargadores de calças, etc.) que existem no Ocidente, que não menos importantes nas suas funções do que demonstrar o excesso a que o capitalismo chega, abandonando a necessidade em nome do desvario. Mas também há toda uma colecção de livros, publicações, postais do “Leste”, que o autor recupera para nosso gáudio. Ou episódios históricos que, de uma forma ou outra, compõe elementos do confuso rendilhado que minaria e explicaria muitos dos conflitos ainda hoje em curso pela Europa e não só. Ou então recordações mais pessoais de encontros com artistas, pessoas, e cidades, criando uma memória, apesar de tudo, transmissível. Como explica de modo perfeito o prólogo de Edgar Pêra, estas “notículas” fazem-nos lembrar as rubricas Ripley’s believe or not. Breves mas intensas, o modo como Zograf as parece “cortar” sem qualquer tipo de crescendo ou resolução emocional apenas as torna ainda mais inquietantes, promissoras e fantasmáticas.

Os vestidos do Tiago. Joana Estrela (auto-edição) Livro ilustrado de apenas pouco mais de dez páginas, não há propriamente aqui uma narrativa, ou pelo menos não há nem intriga nem tensão. É tão-somente quase uma descrição do crescimento do Tiago, o seu fascínio por vestidos “de menina”, a sua colecção que foi sendo criada com o apoio da avó e da mãe, e a descoberta, a mais importante, de que “não está sozinho”. Os desenhos são feitos a linhas simples e coloridas a caneta de feltro, talvez, cada uma delas atravessando-se no caminho da outra não para as interromper mas para que juntas criem figuras que criam uma também simples alegria de ali estar. Este livro não procura de maneira alguma uma espécie de mensagem, nem tampouco de discussão, controversa ou outra, ou sequer ainda propor uma discussão em torno do conceito elusivo de “normalidade”. A autora de Propaganda, depois desse imenso trabalho de reportagem, parece querer chegar apenas a uma constatação, mas é nela que se alevanta a maior das afirmações. As coisas existem, passam-se, têm o seu lugar, e apenas pedem que haja leitores que as leiam e depois pensem sobre elas.

Molly # 2. Rudolfo (auto-edição) Reunindo uma colecção de pequenas histórias, sempre com alguma dimensão autobiográfica, seja ela real ou fantasiada, não há dúvida que esta é uma oportunidade – se for isso desejado – de entrar na psique deste autor. O autor aqui mostra a melhoria e transformação interna dos seus registos gráficos: por um lado, tem uma abordagem super-estilizada e minimal, quase de construção geométrica, numa história dedicada a uma banda favorita de noise (fictícia, mas a partir de fragmentos de experiências musicais e performativas reais, decerto, como se Last Days of Humanity fornicassem com Merzbow e Bob Flanagan fosse a parteira) - ainda que haja “intervenções” de outros estilos -, por outro, tem o seu desenho cada vez mais apurado na introdução de pequenos pormenores orgânicos e vivos, mesmo quando escolhe enquadramentos e composições descentradas. E há toda uma série de inside jokes que poderão alegrar a leitura do mais incauto dos espectadores, como a de um conhecido crítico de zines rendido a uma tira de cãezinhos fofinhos. Mesmo quando se parece concentrar em fantasias superficiais ou episódios banais da sua hipotética vida, há algo de desconcertante e até incómodo no modo como cria estas “confissões”. O facto de ser impresso a rosa não pode ser por acaso.

Break Dance. André Ruivo (Mmmnnnrrrg) Em mais uma colecção de desenhos “soltos” ainda que articulados entre si pelo princípio da série, Ruivo continua na sua exploração de abarcar o mundo, uma página de cada vez. Há algo de infantil nesta espécie de alegria em ocupar uma folha com um desenho e nada mais, declará-lo terminado e passar ao próximo. Todos em papel pautado, estes desenhos são criados a esferográfica, lápis ou lápis de cor, e quase sempre de figuras isoladas, umas paradas, outras em movimentos. Retratos, talvez, de personagens que misturarão alguma capacidade de observação do autor às mais estranhas idiossincrasias das pessoas reais e uma boa dose de inventabilidade no momento do próprio desenho. Para o final do volume, ao invés de transeuntes sob a forma de semi-palhaços ou amantes de camisolas de lã tricotadas e coloridas, começam a ocupar mais espaço personagens de fartas cabeleiras, cobertas com mantos, capas, burkas, sacos de plástico ou surgindo em silhueta, em manchas cada vez mais envolventes de esferográfica preta riscada com alguma intensidade (é visível o volume imposto ao papel, embolado, pela acumulação de linhas e tinta).

Madoka Machina # 1. André Pereira (Polvo) Primeiro número de uma mini-série de 6 (como o modelo de publicação como o Living Will), este novo projecto de André Pereira parece vir confirmar uma linha de trabalho que o autor tem desenvolvido em peças curtas anteriores: a de amalgamar linhas tópicas advindas de géneros e territórios tais como a fantasia, a shonen mangá, alguns videojogos, com temáticas e tratamentos psicológicos de personagens mais habituais de quadrantes da banda desenhada autobiográfica contemporânea, ou slice of life. É provável que a economia das personagens de MM ainda venha a alterar-se substancialmente, e possamos ter de corrigir uma primeira impressão (afinal de contas, começa no “segundo ano”, depreendendo-se haver um “primeiro”). Temos aqui uma vida de casal, Leandro e Leonor, que poderá atravessar crises várias, mas em que neste primeiro volume parece centrar-se no início dessa relação, e na sua conquista da “normalidade”. Todavia, a estrutura que o autor procura instituir, a de criar três linhas narrativas, três perspectivas diferentes e que se traduzem em três modos distintos de compor as páginas, dá-nos acesso a distribuições diferentes das emoções em causa. A primeira parte, em 4 pranchas relativamente clássicas, a partir de uma matriz regular, associa-se a uma certa inércia de Leandro. A segunda, em 8 pranchas, segue numa distribuição vertical (à la koma?), em torno do encontro entre os protagonistas, o seu “voo/partilha mágica” e o início da relação, transformada numa breve transição numa rotina, desaguando no “terceiro ano”. Aí se introduz a terceira linha, também de 4 pranchas, em que se regressa a uma outra regularidade basilar (de 2 x 3 vinhetas), mas onde existem “desarrumações” com vinhetas à la Ware, de intromissões comunicativas, close-ups de objectos, e intervenções diagramáticas. Como dissemos acima, A. Pereira, na senda do trabalho do Clube do Inferno, apresenta aqui um trabalho que não é apenas “mais uma história” de banda desenhada mas uma forma vigorante de propô-la.

Alcibiade. Rémi Farnos (La joie de lire) Para além do zine espanhol já citado, nesta pilha de publicações, apenas mais dois serão de extracção estrangeira (em termos de edição). Este é um livro que pega em todos os clichés da “viagem do herói” e o coloca num único, singular e simples veículo. Começamos a aventura na capa, talvez, que nos oferece nas capas e badanas um circuito fechado do percurso da personagem, chegando de barco, subindo as encostas de uma montanha, saltando pelos ramos de uma árvores gigantesca, penetrando numa gruta tenebrosa, e saindo dela para dar com um trilho que o leva a um barco à beira do lago. Com o pequeno personagem Alcibiade, em busca do grande sábio, acompanharemo-lo em pequenas escaramuças, a recrutar aliados, sobretudo um na forma de um abutre gigante que o ajudará, e depois as várias etapas, da conquista de uma armadura mágica que cresce com ele aos preços a pagar por certas vitórias. Envolvendo dragões, minotauros, gigantes, guardiões de pedra, guerreiros destemidos e toda a espécie de animais fantásticos, e todas as lições que esperaríamos de uma análise à la Joseph Campbell, o particular interesse desta obrinha do jovem autor está menos na própria narrativa ou até nos diálogos, que servem o seu propósito imediato, do que na forma como o autor resolve as questões de navegação das suas páginas ou na composição das paisagens. Se a maior parte delas aparece como uma grelha regular de 4 x 5 vinhetas, muitas vezes apresenta-se sob a forma de uma paisagem completa que as personagens atravessam, por vezes sem que todas as vinhetas tenham um papel “activo” na narração. Outras vezes são sucessões de tiras-paisagem, com pequenos desarranjos. Mas há igualmente outras estratégias, mais radicais, e é nessa diversidade de soluções (um pouco na esteira de alguns dos exercícios espaciais de Lewis Trondheim e companhia, quer nos projectos da Oubapo quer nos projectos infanto-juvenis) que Alcibiade se torna um projecto intrigante, encantador e divertido.

New Frontier. Third Wheel. Hanna K (Peow!) A história contida entre as páginas deste livrinho parece corresponder a um projecto maior, já que apontamentos no seu final remetem a um contexto bem alargado, mas este episódio é concentrado e suficiente com as suas personagens. Numa estação espacial que parece ter entrado em colapso interno, como num apocalipse privado, dois jovens sobreviventes procuram vasculhar pelo lixo disponível soluções de alimentação, energia e até entretenimento, mas quando se cruzam com uma pequena menina mutante, colocam-se na linha de perigo, alterando não apenas as prioridades como as relações entre os dois. Novela rápida, e que fará talvez desejar saber mais do que poderá vir a desenvolver-se, a utilização desses princípios genéricos tornam-na de uma legibilidade imediata, ajudado pelo facto de que Third Wheel parece um encontro entre banda desenhada clássica pós-apocalíptica e toda esta nova sensibilidade da Cartoon Network… Impresso em risografia apenas em tons de azul (no interior, com excepção da capa e uns apontamentos na folha de título), este pequeno livrinho num formato quase de bolso parece remeter para uma experiência antiga de leitura de “gibis”, o que tem tudo a ver com o seu conteúdo.

Nota final: agradecimentos a André Ruivo, André Coelho, e Rodolfo Mariano, pelas ofertas das suas publicações, e à Chili Com Carne, Polvo e Mmmnnnrrrg, pela oferta dos seus títulos. 

1 comentário:

MMMNNNRRRG disse...

Yo! Bum Rush the Show
a Nadja é MNRG e não Chili...
abraços
M