27 de fevereiro de 2015

Celeste. I. N. J. Culbard (Self Made Hero)

Gostaríamos de começar por dizer que a resolução narrativa deste livro não é, de forma alguma, satisfatória. Em muitos aspectos até, é uma narrativa falhada. Os elementos que a comporiam e que preparariam uma estrutura unitária, no que diz respeito à coordenação das suas três “linhas de intriga”, são dissolutos, e jamais se coalescem numa forma final, e a explicação cabal dos misteriosos eventos que testemunhamos nunca surgirá. Todavia... o problema está precisamente nesse ponto de partida. É que Celeste não é totalmente uma narrativa. (Mais) 

22 de fevereiro de 2015

X'ed Out, The Hive, Sugar Skull. Charles Burns (Pantheon)

Alguns leitores da trilogia - sem nome englobante, singular - de Charles Burns sentiram-se algo desacorçoados com a falta de resolução e recompensa emocionais no seu fecho. Essa interpretação não é, de modo algum, errónea, e há um grau quase insuportável de apatia depois do “progresso” da narrativa. A palavra mais certa até seria aquela emoção que se conhecia nos primeiros séculos do Cristianismo como “acédia”, e que era mesmo considerada, primitivamente, como um pecado capital. Um estupor da alma e do corpo, uma melancolia extrema que levava o indivíduo a um alheamento de si mesmo. (Mais) 

20 de fevereiro de 2015

Distance Mover. Patrick Kyle (Koyama Press)

O que acontece quando cruzamos o que aparentemente é um género convencional como a ficção científica, com uma intriga que usa e abusa de explicações e momentos de exposição, um número relativamente pequeno de personagens de maneira a criar uma estrutura concentrada, e um estilo visual que parece todo devedor das mais livres criações gráficas não-naturalistas? Não temos resposta precisa, a não ser apresentar este livro. (Mais)

16 de fevereiro de 2015

La bande dessinée en dissidence. Groupe ACME. (Presses Univesitaires de Liège)

O grupo ACME tem caminhado a passos largos para se vir a tornar numa referência incontornável dos estudos de banda desenhada, dada a forma como têm apresentado os seus trabalhos. Se os seus membros, em termos individuais, são já ensaístas e investigadores com trabalhos bastante significativos (como Christophe Dony, Gert Meesters, Erwin Dejasse, etc.), é a sua coordenação conjunta que leva a que os seus gestos editoriais ganhem uma importância maior, uma vez que apresentam os objectos de estudo sob perspectivas variadas e múltiplas, (quase) completas. Já havíamos falado sobre o volume dedicado à L'Association, esperamos vir a falar de um outro projecto futuro sobre Spirou, encontramo-los agora nesta obra mais lata, que importa ler com algum rigor (ao contrário das passagens mais superficiais dos últimos tempos). (Mais) 

11 de fevereiro de 2015

Shoplifter. Michael Cho (Pantheon)

Como já tivemos oportunidade de o discutir noutras ocasiões, um qualquer bibliómano, bibliófilo ou pura e simplesmente anal retentive bookworm escolherá as suas leituras por vezes por sinais superficiais de beleza. Atrai-nos uma capa, um desenho solitário, um pormenor de acabamento, um material. As mais das vezes esse instinto coloca-nos na senda um livro que nos devolve um conteúdo digno dessa primeira impressão, mas há também casos em que essa promessa não é cumprida. (Mais) 

4 de fevereiro de 2015

Pontas Soltas, Lisboa. Ricardo Cabral (Asa)

A abertura editorial que a Asa propicia a Ricardo Cabral encontra neste volume a sua continuidade, mesmo que os projectos agregados neste volume sejam bem distintos em termos de cronologia, de peso no seu percurso, e até de nível de complexidade. Se os volumes anteriores demonstravam um autor interessado em construir uma linguagem algo desimpedida e nova que mesclava o diário de viagem a uma pesquisa visual, Pontas Soltas, Lisboa ganha de forma mais nítida a ideia de repositório de trabalhos desirmanados e sem coerência transversal. (Mais) 

2 de fevereiro de 2015

Seis livros académicos colectivos.

Para terminarmos esta leva de blocos dedicadas de forma algo superficial a vários dos volumes académicos que têm surgido nos últimos tempo, este post agrega seis títulos cuja característica comum é o facto de serem colectivos, entre antologias de textos, a actas de conferências e projectos oriundos de chamadas de artigos sob um qualquer domínio. No entanto, fica já a promessa de que, graças a vários contacto e colaborações planeadas, revisitaremos alguns destes títulos de maneira mais cabal e ponderada. O tipo de foco desta pilha e, arriscamo-nos a dizer, peso e importância, é variado, mas todos eles, como sempre são prova acabada de que o edifício dos Estudos de Banda Desenhada não é de forma alguma “incipiente”, “novo” ou até mesmo “jovem”, como veremos. (Mais)