16 de dezembro de 2014

"O corpo dos negros amarelos", artigo em Este corpo que me ocupa (Buala)

Tendo já colaborado em ocasiões passadas com a plataforma Buala, voltamos agora a um novo episódio, em contornos ligeiramente diferentes. (Mais)

Tratando-se a Buala de um ponto de encontro transdisciplinar e crítico em torno do diálogo cultural e pós-colonialista contemporâneo entre Portugal, Brasil, África e outras paragens, interessa-lhe toda a espécie de discursos críticos, ancorados nas mais diversas disciplinas, vertentes políticas e linguagens artísticas, que façam pensar essas mesmas possíveis relações. Fruto do esforço destes últimos anos, eis que surge agora o primeiro número de uma série prevista de publicações. Todos esses projectos serão temáticos, ainda que de forma espontânea e livre, sendo o título do presente volume bastante explícito: Este corpo que me ocupa. São várias as linhas que cosem o conceito de corpo, desde o "incorpo" de Gonçalo M. Tavares, rede de afectos que liga o corpo-carne ao Mundo, à esfera do biopolítico pensado por Foucault, Esposito e outros, passando pela precariedade de Judith Butler que o atravessa. São também as várias linguagens expressivas presentes enquanto objectos de análise: desde as mais especificamente artísticas como a fotografia, o cinema, a dança, a performance, o rap, os fanzines, a manifestações políticas, religiosas, ritualísticas, de ocupação e vivência do espaço, público e privado, de vida e de morte.

Conforme já havíamos anunciado quando da discussão do livro de Yvan Alagbé, École de la misère, serve o presente post para indicar termos participado com um artigo em torno do primeiro livro de Alagbé, Négres jaunes, cujo título indicamos acima. Prevê-se que haja uma edição online no futuro, possivelmente com uma forma mais alargada e detalhada. Uma das partes que tivemos de cortar é a génese e transformação textual deste livro de Alagbé, história bastante atabalhoada. Aqui fica, pour prendre date e para os completistas:

"Alagbé, juntamente com o seu colega de universidade (em física) Olivier Marboeuf, fundou a editora francesa Amok no início dos anos 1990. A primeira versão de Négres jaunes foi serializada entre os números 3 e 5 da revista trimestral dessa plataforma editorial, Le cheval sans tête (de que Alagbé era também o director), entre Outubro de 1994 a Maio de 1995. Para a sua edição em formato de álbum, em 1995 (colecção Feu!), Alagbé acabaria por alterar radicalmente as pranchas em termos visuais e não só, considerando-se essa a sua versão final. Por exemplo, os episódios originais tinham, respectivamente, 16, 16 e 18 páginas, mas a versão final tem apenas 47 páginas. Em 2000 foi publicada novamente (na colecção Octave) e em 2012 teve uma outra, aumentada com outras histórias curtas, algumas das quais inédita. Esta nova versão foi re-intitulada Nègres jaunes et autres créatures imaginaires, e sairia pela Frémok, uma fusão da editora citada e da belga Fréon. Uma tradução portuguesa, “Pretos Amarelos”, foi trazida a lume por João Paulo Cotrim na efémera mas soberba revista Papéis 97 (Cotovia: Lisboa 1996). Para o presente ensaio, cingimo-nos a um estudo geral da última versão."
Nota final: um bem-haja à equipa da Associação Cultural  Buala, especialmente Francisca Bagulho, Marta Lança e Candela Varas, pela disponibilidade, trabalho de edição e paciência. No artigo propriamente dito, deixamos agradecimentos a João Paulo Cotrim e Domingos Isabelinho, que aqui repetimos.

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