24 de outubro de 2014

Living Will # 2 e 3. André Oliveira e Joana Afonso (Ave Rara).

Serve este post para (também) indicar, em primeiro lugar, que será lançado [hoje] no FIBDA o terceiro volume desta série, num painel com os autores e moderado por este vosso criado. Tem lugar no Fórum Luís de Camões, dia 25 de Outubro, pelas 16 horas. (Mais) 

Não tendo dado conta quando da saída do 2º volume, limitar-nos-emos porém, com a saída do 3º, a uma mera nota, e não tanto a uma leitura pormenorizada. Pela razão já exposta a propósito de histórias serializadas, que poderão implicar à repetição de ideias. Além do mais, a escrita fragmentária e episódica convida a um tipo de leitura (e a um prazer específico) que poderá colocar em perigo certas noções, uma vez que elas se apresentarão mais como prognósticos, os quais não devem jamais ter lugar na análise e crítica, salvo formas muito cuidadas.

A saga a que Will se propôs, de acertar os pontos deixados em aberto na sua vida, prossegue, e aos poucos vamos conhecendo algumas das pessoas que pautaram a sua vida, ao mesmo tempo que o passado se vai revelando de um modo mais moldado. A imagem completa ainda não nos é acessível, e continuamos a interrogar-nos que tipo de relação é que terá estabelecido com Judith, e se terá sido assim tão feliz quanto o velho nos quer dar a entender? Projecção fantasiosa que apenas a solidão permite? Forma de esconder algum segredo? Seja como for, os seus pecados vão sendo expostos e mesmo que nem todos sejam redimidos, é o seu enfrentamento que servem de mecânica para o avanço do protagonista.

Outras linhas de acção e da narrativa vão sendo desvendadas, como aquela que envolverá a apresentadora de televisão Betty Bristow, mas ainda é cedo para compreender como é que ela se entrosará com a de Will, se bem que o final do 3º volume se abra surpreendentemente para géneros, ou pelo menos acções, inesperadas no que parecia ser uma narrativa do mundano.

A escrita de André Oliveira, aqui rendida à língua inglesa, espraia-se tanto entre os diálogos banais de todos os dias e as frases que as personagens vão revelando e que tocam os fundos de verdades mais cruéis. Se alguns momentos têm ligeiros laivos de sobreexposição, e certos episódios cujas ligações elípticas tornam algo obscuras a fluidez das acções, o interesse dos autores é assegurar as conexões humanas que se mantêm entre as personagens, e os ecos que elas, da perspectiva de Will, ainda permitem no presente.

O desenho de Joana Afonso ganha nalgumas cenas uma sumarização quase caligráfica, mas cuja coerência jamais de desfaz, e as suas opções de composição, focalização e distância têm ganho cada vez mais textura para as significações expressivas das personagens. Além disso, a flutuação das cores, que poderão ter alguns significados mais ou menos constantes de acordo com uma simbologia privada, apenas no cômputo final ganharão o seu pleno sentido, pelo que há que seguir, pacientemente, mas com vivo interesse, a saga até ao seu término.

Amanhã, estas e outras questões serão colocadas aos autores, assim como aquelas do público presente.

Nota final: agradecimentos ao autor-editor, pela oferta dos exemplares.  

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